Novo indicador revela retrato mais fiel das economias locais
IAEM apura a realidade dos municípios mineiros mensalmente
Material publicado no Jornal Diário do Comércio no dia 23/11/2016 - Por Thaíne Belissa
Abrir o jornal, ler sobre a conjuntura nacional e ter a sensação de estar no lugar errado. Para muitos moradores de municípios mineiros, essa é uma experiência comum, já que a economia local muitas vezes tem particularidades que destoam completamente da realidade do País. Percebendo nesse cenário uma oportunidade, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) passou a coletar dados econômicos específicos de cada um dos 853 municípios do Estado, o que acabou resultando no Indicador de Atividade Econômica Municipal (IAEM). O levantamento, que apresenta um retrato muito mais fiel das economias locais, trará resultados mensais das cidades. A última edição foi divulgada ontem.
De acordo com o coordenador do IAEM, Fernando Perobelli, o estudo surgiu dentro da Conjuntura e Mercados Consultoria (CMC), projeto de extensão vinculado à UFJF com o intuito de monitorar com mais precisão a evolução da economia no Estado. Ele destaca que, diferentemente de outros levantamentos, que focam apenas alguns aspectos como Produto Interno Bruto (PIB) ou emprego, o IAEM engloba uma série de indicadores que são condensados em um único.
Para estabelecer o IAEM são consideradas 23 variáveis que retratam as características econômicas locais em relação ao grau de abertura para o comércio exterior, ao nível de atividade bancária, ao estado das finanças públicas e à geração de empregos em cada setor de atividade dos municípios. As informações são coletadas junto a órgãos federais e estaduais. Até o momento, já foram divulgadas quatro edições do levantamento.
“Quando falamos em avaliação de conjuntura econômica os dados normalmente apontam para o nível federal. Mas é importante destacar que os municípios têm características muito particulares e que nem sempre refletem a realidade do País. Esse estudo vai proporcionar o levantamento da realidade dos municípios mineiros por meio de um indicador econômico mensal”, destaca. Para o professor, esses dados serão importantes tanto para os gestores públicos, que podem buscar uma ação preventiva ou corretiva a partir do levantamento, quanto para a iniciativa privada, que terá em mãos informações relevantes para a tomada de decisões.
O professor diz que, apesar das poucas edições publicadas até o momento, a pesquisa já tem dado retorno para equipe. Ele afirma que as prefeituras dos municípios têm procurado os pesquisadores do projeto, principalmente quando há mudanças significativas nos números da economia municipal. Segundo Perobelli, a expectativa é transformar o projeto em uma plataforma de negócios, oferecendo aos municípios pesquisas complementares e mais específicas.
Panorama - Os resultados referentes a agosto deste ano, divulgadas ontem, mostram Belo Horizonte, Contagem, na região metropolitana, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, com as maiores variações positivas na comparação com agosto de 2015. Perobelli explica os bons resultados pela diversidade na atividade econômica desses municípios, o que faz com que eles sejam menos afetados quando um ou outro setor sofre impacto. “Essas cidades têm muitos setores fortes, então são menos impactadas pela crise. Diferente de Ubá, por exemplo, que no levantamento do mês passado teve uma queda no seu resultado porque é um município dependente do setor moveleiro, que sofreu com a crise. Agora, o fechamento das agências do Banco do Brasil deve refletir nas cidades que são muito dependentes da atividade comercial”, analisa.
Outro apontamento interessante da pesquisa foi o movimento de transição no mercado de trabalho de Mariana, na região Central do Estado. De acordo com o indicador, a cidade registrou uma mudança dos postos de trabalho para o setor de serviços, majoritariamente para as atividades de construção. O movimento torna o saldo de empregos deste segmento o melhor de Minas Gerais no mês. O coordenador destaca que o cenário está diretamente ligado à tragédia do rompimento da barragem, ocorrida na cidade em 2015.
Mas ele alerta que, apesar de a reconstrução da cidade demandar mão de obra para o setor, essa não será uma atividade que vai sustentar a economia de Mariana por muito tempo. “Há uma expectativa de crescimento da demanda de mão de obra, mas por pouco tempo. É preciso pensar sobre o emprego após esse período de demanda pela construção civil”, destaca.
O indicador também mostra melhora no nível de atividade econômica em várias cidades devido a abertura comercial no segmento de produtos agropecuários. É o caso de Diamantina, na mesorregião do Jequitinhonha. O município passou a ocupar a posição de economia mais importante da região principalmente por causa do aumento da exportação de produtos agropecuários e das exportações e importações de produtos manufaturados.
Da mesma forma, Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, alcançou o 2º lugar na região após um período de três meses consecutivos ocupando a 5ª colocação. O motivo da melhora é o aumento da arrecadação de ICMS nas atividades de agricultura e pecuária e na indústria de produtos manufaturados. Em Matipó, na Zona da Mata, o aumento da exportação de produtos agropecuários fez a cidade sair da de 13° para 7° colocação.